TEMA: SEXUALIDADE E DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS: SENSIBILIZAR PARA O SEXO SEGURO.
Autora: Iêda Francisca Lima de Farias
Apresentadora: Iêda Francisca Lima de Farias
Instituição: Escola Municipal Joaquim Gomes Sobrinho – Canguaretama/RN
INTRODUÇÃO
O presente trabalho originou-se da necessidade de uma ação educativa e preventiva relacionada à Orientação Sexual DST/AIDS, com alunos da Educação de Jovens e Adultos(EJA) Nível II, da Escola Municipal Joaquim Gomes Sobrinho Município de Canguaretama/RN em um período de dois meses, compreendido entre os dias nove de outubro de dois mil e sete à primeiro de dezembro do mesmo ano.
Com base em informações prévias sobre os jovens e adultos da escola, elaborou-se um projeto visando o esclarecimento do significado da sexualidade e das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/AIDS). Assim como a prevenção, é importante prepará-los como multiplicadores destas informações, a fim de tornar o processo de aprendizagem mais dinâmico e adaptando-se a realidade de cada um.
Sabendo que a EJA é uma modalidade de ensino que visa inserir no processo educativo pessoas que por algum motivo não tiveram acesso à educação básica na idade regular, observa-se que, para assegurar a permanência desses alunos em sala de aula é necessário discutir quais seriam as propostas curriculares mais adequadas para despertar o interesse deles e orientar o educando na descoberta e construção de sua identidade de maneira integrada nas diferentes áreas do conhecimento, tornando a escola um espaço de convívio prazeroso e significativo.
Mudanças de comportamento e a falta de informações entre alguns jovens relacionadas à Sexualidade, as DST/AIDS, a gravidez indesejada, a prostituição, a promiscuidade e o uso de drogas são problemas que constituem um fenômeno nacional facilitando a transmissão de DSTs e AIDS. Uma preocupação que a partir da década de 70 tem se intensificado na busca de um trabalho de orientação sexual nas escolas que engloba o papel social do homem e da mulher, o respeito por si e pelos outros, os estereótipos e a discriminação atribuídos e vivenciados em seus relacionamentos.
Por ser considerada a sexualidade um aspecto importante no desenvolvimento global do sujeito, hoje é um tema transversal preconizado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN 2000, que aborda de forma clara a necessidade de se trabalhar orientação sexual em sala de aula, diz ainda que “reconhece-se como intervenção mais eficaz na prevenção da gravidez, DST/AIDS as ações educativas continuadas, que oferecem possibilidades de elaboração das informações recebidas e de discussão dos obstáculos emocionais e culturais que impedem a adoção de condutas preventivas” (PCN 2000).
A escola possui grande responsabilidade no que tange a orientação sexual. A princípio o tema era timidamente abordado por professores, mas diante das mudanças comportamentais dos jovens, a necessidade de ser aplicado em sala de aula é notória, tendo em vista a dificuldade de a família falar abertamente sobre o assunto em casa. Uma pesquisa realizada em 1993 pelo Instituto Data Folha em dez capitais brasileiras constatou que 86% das pessoas ouvidas são favoráveis à inclusão de orientação sexual nos currículos escolares, confirmando a contribuição para a formação de valores, integração e autonomia do sujeito.
O tema abordado se justifica pelo fato de os alunos, demonstrarem grande interesse e algumas dúvidas em relação à sexualidade e DST/AIDS. Em um estudo prévio, verificou-se uma grande vulnerabilidade às doenças de transmissão sexual, não só nos alunos da escola como também nos jovens que residem na comunidade no entorno da escola, a média de idade da primeira relação sexual é 12 anos, a maioria dos alunos declararam o não uso do preservativo, esses em sua maioria são de famílias desafortunadas e não dispõe de conhecimentos, permanecem na ignorância acerca da realidade, favorecendo a incidência de casos de DST e AIDS. Esse cenário foi o motivo de se levar informações seguras aos segmentos sociais, sendo a escola um local adequado e acessível.
Este trabalho teve como objetivo sensibilizar e contribuir para que os jovens e adultos possam desenvolver e exercer sua sexualidade com prazer e responsabilidade, conhecer e respeitar seu próprio corpo, adotar cuidados que necessitam dos serviços de saúde para usufruir o prazer sexual de forma segura fazendo uso da camisinha, respeitando as diferenças, o valor de cada um, repensar tabus e preconceitos relacionados à sexualidade, evitando comportamento discriminatórios e intolerantes analisando criticamente os estereótipos. Agir de modo solidário aos portadores do HIV e doentes de AIDS de forma a contribuir para adoção de condutas preventivas por parte dos jovens.
REFERENCIAL TEÓRICO
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), ao tratar do tema “orientação sexual”, define a sexualidade como “algo inerente à vida e à saúde, que se expressa desde cedo no ser humano” e como tema a ser discutido e orientado no cotidiano da escola. No Guia de Orientação Sexual (2004) entende-se que: “o trabalho de orientação sexual procura ajudar crianças e adolescentes a terem uma visão positiva da sexualidade, a elaborarem seus próprios valores a partir de um pensamento crítico, a compreenderem o seu comportamento e do outro e a tomarem decisões responsáveis a respeito de sua vida sexual, agora e no futuro”.
A falta de informações é um dos motivos do aumento da gravidez na adolescência. Por isso a necessidade de uma abordagem inicial sobre sexualidade, antes de falar sobre DST/AIDS, tendo em vista que os jovens demonstram um apelo à sexualidade em idades mais precoces, sem se considerarem sujeitos da infecção (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).
METODOLOGIA
O procedimento metodológico fundamentou-se na educação conscientizadora/problematizadora de Paulo Freire, priorizando a participação e o diálogo, favorecendo uma relação crítica e transformadora. A ação pedagógica deu-se em forma de oficinas, a fim de facilitar o processo de aprendizagem, tendo em vista que a grande parte dos alunos apresenta dificuldades na leitura e na escrita.
As oficinas foram desenvolvidas no horário das aulas com duração de quatro horas, totalizando seis oficinas no decorrer do quarto bimestre de 2007.
Em cada atividade trabalhou-se com uma temática relacionada à sexualidade DST/AIDS contemplando técnicas grupais e vivencias específicas para proporcionar as discussões dos temas propostos como: 1º - Cuidados com o corpo; 2º - Gênero e sexualidade; 3º - Ética, Direitos Humanos e Cidadania; 4º - Como evitar DST/AIDS.
Na primeira oficina ocorreu uma exposição oral da proposta de trabalho e procurou-se identificar as dúvidas dos alunos através da técnica denominada “Conhecemos nosso corpo?”, na qual, divididos em dois grupos e tiveram como tarefa a montagem de um quebra-cabeça: um corpo masculino e um corpo feminino. Em seguida, cada grupo apresentou seu quebra-cabeça, estabeleceram uma discussão a respeito do corpo humano, mudanças conforme a etapa de vida, formato, proporção e aparelho reprodutor, masculino e feminino. Ao final, realizou-se uma dinâmica: “O semáforo”, com o objetivo de auxiliar os alunos a identificarem suas dificuldades quanto aos temas de maior interesse em sexualidade.
Na segunda oficina, teve-se como proposta a exibição de um vídeo “Sexo e sexualidade”, com duração de 30 minutos, proporcionando aos alunos clareza acerca das dúvidas apontadas na oficina anterior. Após o vídeo, foi desenvolvida uma atividade, em uma folha de papel madeira na qual cada aluno escreveria o que entendia ou que tinha dúvida sobre as palavras: masturbação, orgasmo, métodos contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis. Em seguida elegeu-se um aluno para fazer a leitura, possibilitando uma discussão relacionada às palavras trabalhadas.
Na terceira oficina foi abordada a temática “Negociação do sexo seguro”. Desenvolveu-se uma atividade de verificação de opiniões dos alunos a respeito do tema e foi entregue a cada aluno uma lista de sugestões para o sexo seguro para colocarem na ordem que acharem corretas e também apontarem onde a negociação do sexo seguro deve ser mencionada. Posteriormente a cada opinião apresentada, gerou uma discussão seguida de argumentos para convencer o parceiro a fazer uso da camisinha.
Na quarta oficina abordou-se a temática: “Por que tanta diferença?”, com o objetivo de levantar questões sobre as “vantagens e desvantagens de ser homem” e “vantagens e desvantagens de ser mulher”, discutir o que os alunos pensam sobre os estereótipos de gênero e problematizar o fato de que estes fazem parte de uma produção social. Após a discussão, em uma folha de papel apontaram uma vantagem e uma desvantagem de ser homem ou mulher, organizando os resultados em uma cartolina para em seguida ser apresentado ao grande grupo. Finalizando com alguns questionamentos para reflexão: a) Qual a origem dessas diferenças?; b) Até que ponto essas diferenças afetam a vida dos homens e das mulheres?; c) Das vantagens apontadas de ser homem ou mulher são reais e quais são estereotipadas?; d) O que significa ser “macho” ou “fêmea?”.
Na quinta oficina programou-se uma palestra com uma enfermeira do PSF, para abordar as temáticas: Relação sexual, DST/AIDS, prevenção e tratamento. Com apresentação dos métodos contraceptivos existentes. Para isso se usou um álbum seriado e cartazes.
O sexto encontro culminou com um seminário organizado pelos alunos em data estratégica para sensibilização: 1º de Dezembro que é o dia Mundial de Combate a AIDS. Para esse momento toda a comunidade escolar fora convidada incluindo pessoas da localidade, Agentes de Saúde e uma Enfermeira do PSF. Os alunos preparam cartazes contendo breves definições e explicações sobre sexualidade e DST/AIDS, como prevenir das doenças e da gravidez indesejada, como se cuidar fazendo uso dos seguintes métodos: preservativo masculino e feminino, anticoncepcional, focando sempre a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis. Ao final os alunos distribuíram preservativos, textos informativos, folhetos sobre DST/AIDS e laços vermelhos em alusão ao Dia Mundial de Combate a AIDS.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer do cumprimento das atividades foi possível perceber o interesse e a participação do grupo, facilitando o processo de aprendizagem. O cuidado minucioso na escolha das atividades foi de suma importância, favoreceu alcançar os objetivos propostos de promover um espaço de ações problematizadoras sobre questões pertinentes a sexualidade e DST/AIDS, focada na noção de responsabilidade associada ao relacionamento sexual seguro, auxiliando no processo da prevenção e promoção da saúde para uma melhor qualidade de vida.
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva. 1999.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Educação de Jovens e Adultos: Proposta Curricular para o primeiro segmento do ensino fundamental. Brasília: MEC-SEF, 1999.
FREIRE P. Educação como prática libertadora. Rio de Janeiro – RJ: Paz e Terra, 1996.
Guia de Orientação Sexual: Diretrizes e metodologia/tradução e adaptação Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual, Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, Centro de Estudos e Comunicação em Sexualidade e Reprodução Humana. – 5ª Ed. – São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.
Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural: orientação sexual/Secretaria de Educação Fundamental – 3. ed.-Brasilia: A Secretaria, 2000. 164.: Il.; 16x23cm.
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