Veja cinco pontos para qualificar a formação docente, segundo António Nóvoa
Você encontra similaridade entre a atuação de um professor e um médico? Acha que a formação desses profissionais pode, em alguma medida, dialogar? O reitor da Universidade de Lisboa, doutor em educação pela Universidade de Genebra, António Nóvoa partiu da análise da proposta formativa da Harvard Medical School para trazer reflexões sobre a carreira docente no Brasil.
Em encontro realizado no Instituto Singularidades, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, em São Paulo, na última quinta-feira (28/07), o especialista foi taxativo ao dizer que “formar um professor é formar um profissional da educação, assim como formar um médico”, fazendo menção à necessidade da atuação docente ser vista como uma profissão e, portanto, receber toda a importância de qualidade, recursos e investimentos.
Estudo de caso e reflexões
Nos últimos meses, Nóvoa se dedicou a estudar o programa de formação da universidade norte-americana e resgatou alguns pontos que, segundo ele, tornam o processo formativo mais significativo. Como primeiro ponto, o pesquisador apontou a cerimônia simbólica que marca a entrada dos recém formados na universidade. Estudantes, professores e médicos já atuantes entregam o jaleco aos egressos, “o que significa que toda a comunidade se responsabiliza pela formação dos futuros médicos”, ressaltou.
Outra questão, é o fato da universidade defender uma experiência individualizada como estratégia de formação, entendendo que cada sujeito tem um percurso próprio de aprendizagem a ser seguido. A condução formativa ainda se dá de maneira entrelaçada, se afastando de uma proposta estratificada de currículo. “Ele [o currículo] se apresenta integrado e integrador, aproximando a teoria e a prática em todos os momentos”, reconheceu.
Nóvoa também falou das matérias que acabam sendo desenvolvidas a partir de instrumentos, como explicou. “O tempo na universidade é utilizado para o estudo de casos e problemas, e não para as disciplinas, contribuindo para que haja uma visão integrada das questões que cercam a Medicina”. Isso se ancora em um ambiente colaborativo, em que se reconhecem um esforço de socialização, além de dinâmicas de inter-cooperação.
Por fim, o pesquisador citou o compromisso com a pesquisa e a ação, como forma de valorizar e sistematizar o conhecimento que é construído dentro da profissão, a partir de seus problemas reais. E também a ligação com o exterior, propondo diálogo permanente com a comunidade.
Dos médicos aos professores
Para Nóvoa, a agenda da formação docente incorre em um erro central. Ele coloca que muito se diz sobre o que os professores têm que ter ou fazer, de maneira geral, e pouco ou nada se diz sobre como cada professor pode se encontrar individualmente na profissão.
“Como que eu me formo como profissional, encontrando a minha própria maneira de ser professor, em conjunto com outros profissionais, pesquisando e agindo no campo institucional da escola, sem nunca exercer o exercício público da minha profissão?”, provocou.
A partir disso, o especialista elenca cinco pontos que, a seu ver, podem qualificar as práticas formativas iniciais e continuadas e consequentemente o percurso desses profissionais.
1. Disposição pessoalNóvoa defende que as formações docentes garantam espaços e tempos para um trabalho de autoconhecimento, de autorreflexão, de maneira que os professores partam de suas histórias pessoais, de vida, de sua subjetividade para então formatar a sua identidade profissional.
2. Composição pedagógicaTambém entende a importância de que haja processos de composição pedagógica, que permitam aos professores fazerem diferentes elaborações e encontrarem seus próprios modos docentes, com autonomia e conhecimento profissional.
3. Interposição profissionalO trabalho, a seu ver, deve partir da socialização e da colaboração entre os pares, esforço que, em sua análise, deve estar presente desde o primeiro dia da formação. Nóvoa ainda defende que os percursos se deem em comunidades práticas de aprendizagem.
4. Proposição institucionalReforça a necessidade dos docentes conquistarem seu espaço na escola, firmando a sua posição profissional e participando do projeto educativo da instituição, a partir de uma postura ativa, criadora e transformadora.
5. Exposição públicaPor fim, reconhece a importância de que os professores atuem em outros espaços além da escola, como na comunidade, e também nos espaços públicos da educação. “Hoje vejo fragilidade na presença dos professores nos espaços das políticas públicas educacionais, e é imprescindível que esse lugar seja ocupado”, finalizou.
29/07/2016
Por Ana Luiza Basílio
Nenhum comentário:
Postar um comentário